Tálio abre novas oportunidades na economia
A comprovação, no início deste ano, da existência de uma importante jazida de tálio no município de Barreiras, no Noroeste da Bahia, fez mais do que simplesmente somar mais um produto à já extensa lista de matérias-primas que o País tem a oferecer nos mercados interno e internacional. Ela abriu perspectivas inteiramente novas em um importante setor da exploração mineral, pois o tálio está longe de ser um metal comum.
Basta dizer que atualmente apenas dois países – o Cazaquistão e a China – têm condições de oferecer o metal no mercado internacional. E que um deles, a China, vem adotando desde 2006 uma política de restrições fiscais, a fim de manter a produção dentro de suas fronteiras, para o abastecimento exclusivo de seu mercado interno. A pouca disponibilidade vem resultando no aumento do preço do produto. De cerca de US$ 2 o grama, em 2005, ele está hoje na faixa dos US$ 6 o grama.
Apesar disso, os usos do tálio estão aumentando. Na medicina, o tálio vem sendo cada vez mais usado como contraste para a geração de imagens em exames cardiovasculares. As moléculas de cloreto de tálio marcadas com o radioisótopo TI201 são usadas há mais de 25 anos e constituem hoje o padrão em medidas do fluxo sanguíneo no coração.
O tálio é um importante material termoelétrico, capaz de gerar energia elétrica a partir de uma fonte de calor. Isso abre enormes perspectivas com relação à transformação do calor dissipado pelos motores em energia aproveitável. O tálio é empregado também como material supercondutor em altas temperaturas. Outros usos incluem filtros de comunicação sem fio, sistemas ópticos de detecção de infravermelhos, como cristal em dispositivos para a detecção de raios gama e a fabricação de Leds.
Esse cenário de utilização crescente do tálio valoriza a descoberta feita pela Itaoeste, empresa de pesquisa e desenvolvimento mineral, fundada em 2002, com atuação na Bahia, Piauí e São Paulo. A Itaoeste (associada ao IBRAM) tem como principal acionista o empresário Olacyr de Moraes. A jazida de tálio veio ampliar o portfólio da empresa, composto, entre outros elementos, de manganês, cobalto, ferro, ouro, cobre e fosfato.
A descoberta impressiona por sua magnitude. As reservas de tálio metálico identificadas correspondem a mais de 60 milhões de gramas. Isso equivale a seis anos de consumo mundial do produto, que é atualmente de 10 milhões de gramas por ano. Alem disso, é a primeira vez no mundo em que um depósito de tálio foi encontrado associado ao manganês e ao cobalto, em um ambiente geológico continental.
Esses resultados correspondem a apenas 2% de uma área de 44 mil hectares, ainda em pesquisa pela empresa. As expectativas são otimistas, pois estudos em desenvolvimento confirmam a continuidade do minério e a presença de significativas reservas de manganês e cobalto, produtos com alta demanda e valor de mercado.
Além de colocar o Brasil em evidência por conta da descoberta de um minério raro, a Itaoeste trouxe inovações para os processos de obtenção. Por meio de ensaios hidrometalúrgicos, as amostras foram submetidas a uma série de operações, chegando-se à produção de sulfato de manganês, óxido de cobalto e sais de tálio, com excelentes recuperações metálicas. Os estudos contaram com o apoio de pesquisadores contratados pela Itaoeste e foram desenvolvidos no Departamento de Engenharia de Minas e Petróleo da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP).
O Brasil já domina a tecnologia de parte das aplicações do tálio, especialmente para a medicina. A descoberta dessa jazida abre as portas para o desenvolvimento de cadeias de valor complexas e de alta tecnologia. Com garantia de fornecimento e independência de fontes externas, o País ganha a possibilidade de ingressar em áreas técnicas inteiramente novas, para benefício de sua economia.
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